sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

As novas Matinas



Adivinha-se que o dia vai romper em breve, por entre a neblina fumosa da poluição da véspera. O camião do lixo já passou. O despertador electónico do vizinho do lado já deu o pi-pi do costume. O meu vizinho tem azar; trabalha a hora e meia de casa e as Horas dele começam mais cedo. Não tardará muito que o meu despertador também se queixe, mas hoje vou acordar ao som de uma música que carreguei ontem da internet e que adicionei ao ficheiro da máquina que agora me faz a oração das Matinas.

Antes de tomar banho ligo o computador para ele ir fazendo o scanvirus, sempre causa de possíveis lentidões. Antes de voltar a subir ao quarto, ainda abro o Outlook para ver se há alguma coisa mais urgente. Nada de especial; o meu amigo japonês tem aqui uma mensagem, quer que eu identifique a flor cuja foto vai em anexo. Ora deixa-me ver... Esta flor... Vou ver se me lembro enquanto me visto. Onde é que eu já vi esta flor? Já sei! É uma corriola. Depois de tomar o pequeno almoço talvez ainda tenha tempo de responder ao Xiro.

Hoje o meu dia começou bem, porque começou com uma flor. "Xiro, a flor chama-se corriola. Um abraço."
E as Matinas? Que matinas? As matinas tocou-as o despertador, carregou-as o computador, chegaram em forma de flor, partiram com nome de flor, entraram com a chave na fechadura do carro, desapareceram... Talvez algum sino algures no Portugal profundo já não tenha conseguido fazer parar o agricultor de phones nos ouvidos, no tractor a caminho do pomar... Talvez algum monge na Arrábida, ou nas montanhas italianas, tenha lido por mim as matinas de hoje. Até pode ser que as tenha lido no ecrã de um portátil, carregadas a partir da pen-disk de um monge amigo que as "sacou da internet": Iubilate omnis terra...

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