domingo, 24 de abril de 2011

Inauguração do Centro Cultural e Social de Vale da Mua


O dia 23 de Abril de 2011 ficará a marcar a história da povoação de Vale da Mua como um ponto de viragem na forma de encarar o seu próprio futuro. De uma escola, largos tempos abandonada, fez-se um Centro Cultural e Social que passará a ser o ponto de encontro dos vários tipos de moradores que passam todo ou algum tempo das suas vidas naquela aldeia.

A inauguração do Centro contou com a presença do Senhores Presidentes da Câmara de Mação e da Junta de Freguesia de Envendos, entidades também elas envolvidas no apoio a esta realização.

A sessão de descerramento da placa foi uma cerimónia singela, com momentos emotivos, e outros de carácter mais oficial. A primeira oradora foi a Professora Lucinda Pereira, natural de Vale da Mua, uma das últimas docentes a leccionar na escola e, simultaneamente, impulsionadora do projecto. Fez uma breve resenha do processo que conduziu à concretização do sonho e lembrou as centenas de crianças que, naquele mesmo espaço, tinham dado os primeiros passos no seu processo de formação, que os havia de conduzir a outros voos na vida e no saber. Falaram seguidamente os senhores presidentes da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal, respectivamente o Sr. João Luís Pereira e Dr. Saldanha Rocha, ambos a sublinharem a importância da realização deste tipo de projectos na valorização dos espaços rurais e na resposta às novas realidades do povoamento de aldeias como Vale da Mua. Ambos deram também por bem empregue algum apoio prestado pelas entidades que representam, lamentando que a situação do país não lhes permita ir mais longe nesse apoio. O Sr. Presidente da Câmara terminou o seu discurso com duas citações a lembrar a importância do sonho, da persistência e da união na concretização de projectos como este. Em jeito de surpresa, um dos antigos alunos da escola, o Sr. Agostinho Pinheiro, leu um conjunto de versos de sua autoria, dando seguimento à tradição poética de Vale da Mua, terra com velha fama de bons versejadores. Todas as intervenções foram sublinhadas com aplausos calorosos, a que se juntou alguma emoção, sobretudo daqueles que mais se empenharam na concretização do projecto.

Finda a cerimónia oficial, deu-se início a uma bela tarde de convívio, a que o almoço volante serviu de pretexto, numa oportunidade ímpar de rever caras que não se viam há muitos anos, de desfiar recordações adormecidas pela espuma do tempo e de refazer laços que as circunstâncias da vida tinham tornado frouxos. A ementa foi sobretudo essa, mas também havia frango, arroz, petiscos e muitos doces confeccionados pelas hábeis cozinheiras da terra. A parte líquida do convívio compunha-se também de alguma da boa pinga que os produtores locais quiseram mostrar aos apreciadores. E a conclusão foi unânime: em Vale da Mua ainda se fabrica bom vinho!

O convívio, intercalado também por leilões de ofertas e por duas sessões de bingo, prolongou-se pela noite dentro, porque havia muitas histórias a contar, muito passado a relembrar, muita vontade de convívio e de união. E há ainda o futuro, algumas obras por concluir e um calendário de actividades a realizar para que o Centro Cultural não seja só edifício, seja sobretudo um elo de união e uma alavanca da promoção dos valores culturais e vivenciais que estão no passado da aldeia. Muito foi feito, muito há a fazer, mas a hora é sobretudo de felicitar aqueles que deram alma e vida ao sonho realizado.

Celestino Pinheiro




segunda-feira, 7 de março de 2011

Magusto e Convívio no Centro Cultural e Social de Vale da Mua




No passado dia 5 de Março, a Direcção do Centro Cultural e Social de Vale da Mua (Envendos) convidou os seus sócios e a população em geral para um Magusto-Convívio nas instalações daquela associação. O pretexto foi a existência de um saco de castanhas, gentilmente oferecido pela Junta de Freguesia de Envendos, mas, sobretudo, o facto de as instalações do Centro estarem quase concluídas. Compareceram à chamada cerca de meia centena de convivas, de todas as idades, desde os mais velhos que ainda moram permanentemente em Vale da Mua, até aos mais novos, filhos dos filhos da terra que, por razões ditadas pela vida, aqui não podem passar todos os dias do ano.
A parte comestível do convívio decorreu em duas secções: cá fora as castanhas e o chouriço e, lá dentro, os bolos e petiscos trazidos por quem quis colaborar dessa forma. Na lareira ardiam troncos reconfortantes para os pés dos mais velhotes, até porque a tarde estava fria. A missão de aquecer os corpos e as almas coube também ao conteúdo de dois garrafões de pinga cá da terra, completamente aprovada pelos convivas. A chuva resolveu também fazer-se convidada, o que até não calhou mal, porque obrigou a juntar na nossa velha "sala de aulas" a totalidade dos presentes.
Pode dizer-se que esta iniciativa da Direcção do Centro foi plenamente conseguida, em todos os aspectos, no convívio e no avanço do projecto. Esta foi a oportunidade de mostrar a obra feita, que está bonita, e é digna de todos aqueles que nela se empenharam.
O passo seguinte, além de concluir alguns pormenores da obra, é o de realizar a inauguração oficial do Centro, o que acontecerá no dia 23 de Abril. Pela amostra que foi este convívio, espera-se que a inauguração conte com a presença massiva de todos aqueles que vêm neste Centro um espelho do dinamismo de uma aldeia que, desde sempre, primou pelo espírito de iniciativa e de união, como se pode ver em obras como a fonte, a estrada e a capela de Nossa Senhora de Fátima.
Até Abril!
Celestino Pinheiro










sexta-feira, 27 de março de 2009

Tarefas


Aí está uma das noras de que se fala neste texto. Coberta de mato e de balsas. Qualquer dia, para explicarmos aos nossos filhos o que era uma nora, teremos que ir a algum parque temático de hipermercado... ou nem isso.

TAREFAS

Por: Agostinho Pinheiro


in Voz da Minha Terra, 25/03/09


Talvez por trabalhar onde se passa o dia a recordar passagens da vida, o meu pensamento para aí se vire com mais facilidade e as histórias contadas pelos mais velhos me façam andar para trás no tempo e às vezes parecer que estou ainda nos princípios das minhas lembranças. Hoje veio à lembrança uma das primeiras tarefas que uma criança realizava no meu tempo; como as famílias eram, por norma, numerosas, havia tarefas para todos, porque todos comiam, e às vezes era o tal pão que não deitava migalhas: uns guardavam gado, outros lavravam com parelhas de burros os alqueves que davam centeio ou trigo, mas uma das que realizei com mais frequência era engraçada, mas naquela altura a graça era pouca: tocar os burros que andavam na nora. Já não bastava o tormento a que eram submetidos, presos, de olhos tapados, sempre à roda e cheios de moscas, se eles falassem, que diriam dos donos. Como se não bastasse, ainda tinham um guardião para os obrigar a andar sem parar, porque mais à frente estava alguém a regar o milho que era abundante na ribeira de Vale da Mua e, se faltasse a água no regato, era uma chatice.
Aquele engenho, inventado sabe-se lá por quem, a certa hora do dia formava uma orquestra naquela ribeira, com aquele estalido que dava. Cada nora tocava de maneira diferente e, num espaço de 500 metros, havia uma dúzia de noras, por isso a gritaria também se ouvia em grande quantidade, porque os motores resolviam descansar por cansaço. Lembro-me de o meu pai falar do tempo das picotas, ou motores de garrancho, como lhes chamaram posteriormente, esses sim, de verdadeiro martírio para os humanos, que às vezes os obrigavam a praguejar, por irem parar ao fundo da ribeira ou do poço e nada custava desejar coisas do outro mundo a quem inventou tal algaramenço. Depois destas invenções, vieram os motores a petróleo, que acabaram com todas as invenções anteriores, mas que também davam cabo da cabeça às pessoas; ou era a mecânica, ou era o chupador que se esvaziava e o motor não puxava água.
Tudo isto no tempo em que não se falava de economia real nem global, havia sim a economia individual; cada família tina a sua maneira de economizar ou de ganhar o pão de cada dia e esta contribuía, naturalmente, para a nacional. Nesses tempos comprava-se só o necessário para viver, não havia créditos para tudo e para nada, vivia-se a realidade da pobreza, mas era uma pobreza sincera, não como a riqueza de agora que é mentirosa, tudo não passa de puro faz-de-conta.
As tarefas então realizadas pelos mais novos são agora consideradas abusos, e o mundo chegou a este ponto de se querer a perfeição e chegar ao desastre, de todos estarmos insatisfeitos por tudo e por nada, até de termos mimo a mais.
A tarefa de cada um dependerá de si mesmo, mas, sem tarefas, o mundo acabará triste, e quem terá a tarefa de o melhorar?

sábado, 7 de março de 2009

As mulheres da família

Hoje é o DIA INTERNACIONAL DA MULHER. Por isso, em homenagem às mulheres da família, aqui ficam algumas. As que conseguimos arranjar...




De regresso...às origens.

Após uns meses de ausência, aqui estamos de regresso, para retomar esta aventura, de regresso às origens. E como ainda não há nada para publicar, aqui fica a convocatória do Centro Cultural e Social de Vale da Mua para que os seus sócios compareçam no dia 11 de Abril, pelas 15 horas, na Sede do Centro. Vamos a ver se é desta...

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Barca do silêncio.


(Este é um texto de horas nocturnas, de horas passadas e de horas actuais. Publico-o sem autorização do autor, mas estou certo que ele gostará de as ver aqui, neste mundo virtual, tão distante e tão próximo dos nossos anos comuns de infância e de juventude. C. Pinheiro)

Numa destas noites de Inverno, passei pela Estação da BARCA DA AMIEIRA para ajudar alguém a apanhar o comboio; Sem nenhuma surpresa, senti o silêncio a que foi obrigada a estar, aquela que foi uma das principais vias, por onde passou muita da riqueza produzida na nossa região. São outros tempos e a economia assim o obriga.
Vieram à ideia tantas recordações, algumas delas vividas, outras que ouvi dizer por quem lá passou antes de mim. Recordo as minhas, em primeiro lugar, porque foram elas as que fizeram sentir a nostalgia, naquela noite.
As viagens de infância, e não só, também as do Serviço Militar, sempre com o acompanhamento daqueles farnéis e volumes que agoniavam qualquer terrestre. Eram alcofas cheias de tudo o que a Terra dava para quem lá na cidade vivia. Aquela Estação era, como hoje, uma das nossas aldeias da Freguesia em termos de vida: tinha "tabernas" , casas de comércio, armazéns e pessoas que lá habitavam por lá trabalharem. E porque não recordar todos aqueles sons daquela ajudante a acertar as agulhas, e depois toda a azáfama de entrar para o comboio, com pessoas a despedirem-se, e o chefe com a bandeirola na mão e o apito inconfundível na boca a dar sinal de partida. Olhava-se com tristeza a partida do comboio, pois, dentro dele, iam os "nossos"; depois, mais umas despedidas ao pessoal da Estação que por alí ficava, à espera do próximo.
Por ali passou a actividade económica da nossa Freguesia. Os despachos de mercadoria das Indústrias de Carnes, de Azeites e azeitonas, de Adubos, não só da nossa freguesia como das limítrofes, Carvoeiro e S. Pedro do Esteval. Lembrar que foi ali, o ponto de passagem para a "escravatura" da "ceifa", das azeitonadas, enfim, de tantos trabalhos passados no Alentejo. Era depois o ponto do regresso assinalado com as "contas" na COMISSÃO do outro lado do Tejo, porque era ali que elas se faziam, era dali que se regressava a casa com os parcos dinheiros ganhos nas margens do restolho.
História de uma Barca que deu o nome ao local e hoje repousa numa das margens do rio Tejo, como que adormecida ou morta pela nova tecnologia; Sim, porque dizer agora a muita gente, que por cima daquela Barca passaram toneladas de mercadoria em dias de Inverno, com o Tejo de meter medo a qualquer mortal, com um barqueiro a puxar por um cabo de aço e a empurrar com uma vara, será ter, com certeza, de mentiroso ser chamado. Tão poucas serão as histórias de burros que nela não queriam entrar ou teriam caído ao rio, e tantas outras que não ouvi, mas tenho certeza da sua existência. Posso afirmar que nela passei e dela tive medo ao chegar ao meio do Tejo. Como eu, tantos outros ou vós que estais a ler estas palavras, terão uma história para contar daquele sítio que hoje virou ao turismo, talvez pelo silêncio que usufrui ou pelo encanto que nele encontra, os sons que dele brotam são hoje diferentes. O comboio já não faz "POUCA TERRA", nem se ouve a máquina a gasóleo. É hoje silencioso e eléctrico. A “torquês” não fura o bilhete porque já lá não está aquela janelinha, nem alguém para o picar. As agulhas também não se mudam e soa uma voz bonita, mas oculta, a anuniar o comboio. Depois de partir, já não temos o Américo nem a Maria Aurora, nem o chefe e a família, nem a taberna, para nos despedirmos até à próxima.
Os sons que agora se ouvem, são os do campo, os chocalhos das vacas do outro lado ou o da "cigarra", no Verão.
BARCA DA AMIEIRA, amada por muitos e por outros tantos, odiada na dureza das recordações, será o espelho daquilo que está a acontecer às nossas aldeias? - O SILÊNCIO.

A. Pinheiro

in "Voz da Minha Terra", 25 Fevereiro 2008

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

A evolução tecnológica é inimiga dos gatos!



Ora aqui está uma conclusão óbvia. Basta reparar nestas duas fotos. Dantes, a minha gata Fifi adorava dormir sobre o meu velho monitor-contentor, com um enorme tubo de raios catódicos e uma ventoinha que expirava um ar sempre quentinho ao gosto dos gatos.
O monitor-dormitório da Fifi tinha também óbvias vantagens para o proprietário; nas longas noites de fazer testes á pressa ou de acabar um trabalho qualquer, tinha sempre a agradável companhia da bichana que, apesar de ter modos bravios e pouco sociáveis, vergava o seu mau feitio ao aconchego do calor informático. Há uns meses comprei um ecrã plano, sem me lembrar das nefastas consequências que o aparelhómetro traria para a felina.
Da primeira vez que a bicha me apareceu sobre a secretária, lesta para saltar para cima do monitor, nem imaginam a sua decepção: os bigodes sempre afinados e sensíveis, descaíram ligeiramente, os olhos vivos contraíram-se na interrogativa e o miado de antegozo que lhe era habitual transformou-se num breve lamentação desiludida. Pobre Fifi! És a última vítima da evolução das tecnologias! Em tempo de Web 2.0, a caminhar já para o 3.0, não haverá alguém capaz de inventar ecrãs planos com suporte para gatos?